domingo, 30 de agosto de 2015

Gnosticismo, Goetia e Além da Goetia



Nos grimórios medievais vemos o uso de nomes divinos como “Adonai”, “IAO” , Sabaoth.

Esses são atribuidos ao Deus criador do universo material, o Demiurgo. Demiurgo, do grego demiourgos, significa “o que trabalha para público, artífice, operário manual”.Quase todos sistemas esotéricos antigos tiveram origem no Platonismo, tais como a Cabala, o Sufismo e Misticismo cristão.
 Então se queremos ter uma boa ideia desses sistemas e dos sistemas provenientes desses sistemas devemos estudar a fonte que é Platão.

Platão chamava a este Deus de artesão porque esta deidade usou o conhecimento das Formas para criar o universo dos seres vivos de matéria bruta.Platão acreditavam que todos objectos físicos eram uma sombra da sua forma ideal que existia no “reino das formas”, e assim o Demiurgo usou-as como modelo e tentou reproduzi-las através da criação do nosso universo.As Idéias existiam nelas mesmas e não dependiam do Demiurgo.

Na verdade, para Platão, nem era um deus criador que criou a partir do nada. 

A acção dele foi somente colocar ordem (cosmos) no que antes era desordenado (caos). 
A noção da criação ex nihilo é impossível na Grécia clássica, pois para um grego do nada, nada viria. O demiurgo platónico cria o mundo sensível apenas a partir de uma substância pré-existente.
Este é um pontos que diferenciam Demiurgo do posterior Deus cristão, pois Deus cristão criou o mundo a partir do nada.

Platão descreve o Demiurgo como sendo benevolente, e portanto, desejoso de criar um  mundo tão bom quanto possível.
 O mundo permanence imperfeito, no entanto, porque o Demiurgo tinha de trabalhar com a matéria caótica pré-existente.


Por influência de Empédocles e Pitágoras, Platão acreditava que o universo era composto por quatro elementos (terra, água, ar e fogo) sob a forma de sólidos geométricos. Ao Fogo correspondia a forma de um tetraedro; ar a na forma de octaedro; água a forma de um icosaedro e a Terra a forma de um cubo;

Em Timeu Platão descreveu que cada elemento (na sua forma geométrica) como capaz de quebrar mais em triângulos; isto permite que os elementos para transformar uma na outra através da separação em triângulos e reformação como outra forma geométrica. 

É curioso que existem vários programas para criação de modelos 3d como Milkshape 3d que utilizam o triângulo como base unitária.
Modelo 3d no Milkshape 3d


Igualmente, também podemos ler em Timeu que o Demiurgo criou círculos por onde navegam os planetas.



Assim cosmologia de Platão inclui a criação do universo por um artesão divino através de princípios matemáticos.

E de facto na Goetia conseguimos ver a crença no poder nas formas geométricas, como por exemplo, a crença no poder do circulo e do triângulo.

O mais importante não é apegarmos muito as vestes da tradição, mas antes nós maravilhamos com a essência que elas escondem dentro.
O culto do circulo e triângulo representam a busca idealista da forma primordial que está na base da criação, tal como os alquimistas procuravam uma matéria primordial para iniciarem a grande obra.




Como Platão, o gnosticismo apresenta uma distinção entre o Deus maior, incognoscível e o deus demiúrgico "criador" do mundo material. No entanto, em contraste com Platão, vários sistemas de pensamento gnóstico apresentam o Demiurgo como antagônica à vontade do Ser Supremo.
Assim Demiurgo seria uma entidade malevolente.
Os gnósticos frequentemente identificaram o Demiurgo com o Deus Hebraico Yahweh, o Deus do Velho Testamento.
De facto, o Deus do Velho testamento parece ser uma entidade malevolente pois é um Deus ciumento, mesquinho, invejoso e vingativo.
Tendo em conta esta perspectiva, talvez possamos que os criadores da Goetia com suas preces tenham conscientemente pretendido o auxilio de um Deus mesquinho e rancoroso.

Afinal porque razão um Deus espiritual e bondoso ajudaria a manifestação de realizações materiais?
E porque determinados nomes divinos teriam qualquer poder? Qual seria a razão dessa convenção?
Because fuck you, that's why.


Se um Deus ou Demiurgo criou universo material segundo a vontade ele pode ter lhe dado qualquer lógica que desejasse (ou ilógica).

 Podemos fazer um paralelo com um jogo.  Cada jogo têm o seu universo, desenhado por um game designer, que segue determinadas leis.

Regra geral, os universos de cada jogo parecem universos ordenados com suas regras, mas depois existem as chamadas "cheats".

As "cheats" são certos códigos segredos que permitem quebrar o sistema e violar as leis aparentes do universo em questão.
Temos assumir que as cheats não são lógicas, pois pela própria definição elas desafiam a lógica comum!

Se olharmos para o nosso próprio universo ele não pareceria tão lógico senão estivéssemos tão habituados a ele.

O que distingue um bom mago é a sua habilidade de ousar,-  ousar reclamar para sim o poder criação.

Um mago deve adquirir a habilidade de ver o mundo de uma maneira diferente, e quem têm esta capacidade das duas umas:
- Ou é um tolo ou é um visionário.

É habitual dizer que uma imagem vale por mil palavras. Ora aqui esta:


Eu acho magia não deve ser associada a um fim especifico, mas sim a uma busca. Para mim se existe algo que nós liga directamente com magos antigos não é um grimório especifico como a Goetia mas antes esta busca eterna que partilhamos com eles.

Enfim talvez a Goetia funciona, talvez não.
Talvez existem certos nomes divinos que permitam controlo sobre seres com todo tipo poderes mágicos como um génio de Aladin.  Talvez a Goetia não passe de uma superstição medieval.
 No entanto a essência da magia é esta. Magia é a procura de uma falha na matrix que nós permita manipular a realidade de tal forma que não seria permitida por meios comuns.
Um mago é um hacker que tenta explorar as vulnerabilidades da criação.
Talvez uma dessas "bugs" pode ser explorada pela petição de favores a um Deus criador mesquinho.  Ou talvez seja possível obter controlo da realidade se seguirmos uma abordagem mais moderna e tratarmos os seres goeticos como uns anjos, amigos e confidentes. 

Ou talvez haja outra forma para além destas. É preciso que continuemos a procurar ou que continuemos a jogar ....